
E as máscaras
Cobriram as bocas
E as bocas comedidas
Transferiram
Seus sorrisos para o olhar
E os olhares
Também transpareceram
Como águas cristalinas
Medos
Angústias
Solidão
Esperança
Impaciência
Interesses
Conflitos
Afeição
E as máscaras
Sobraram sobre os narizes
E impediram o ar
E trouxeram a falta
E reduziram os cheiros
Das comidas e dos domingos
Dos doces aromas de azeite
a derramar das frigideiras e das baianas
De acarajé
Máscaras, máscaras
Não me privem
Dos passos apressados
Do happy hour
Da mistura de suor do final de turno
Com o perfume a costurar
O encontro a acontecer
Parem máscaras…
Não me barrem a vontade
Do beijo
Do abraço
Da carência
Do cheiro do humano
Não me estenda mão estéril
E congelada por álcool em gel
Desfaz a nenhum passo o distanciamento
E eu me permito
Sem toque de recolher
Me recolher
E degustar meu cheiro
Meu eu
E meus sentidos!