Tristeza de Salvador

Pobre de uma cidade que tem seus cartões postais ensanguentados pelas tragédias humanas. Em menos de um mês, Salvador viu duas de suas representações de beleza, serem palco de sofrimento extremo e perda de vidas. Em um mesmo mês, a cidade consternada presenciou o desespero de dois dos seus moradores, que em atitude extrema abriram mão das suas vidas. De verdade, estes se tornaram públicos, e o silencio dos outros? Quem ouve os gritos, os pedidos de socorro… e os suicídios solitários? O que está acontecendo com Salvador?

Salvador a cidade, pede socorro. E reflete a situação de calamidade que se instalou no país. E o  Brasil perplexo, diante dos veementes  testemunhos do seu povo, se indaga sobre o real sentido de uma nação.  O país  tem se destacado internacionalmente como o responsável pelo maior número de mortes por Covid no planeta. O que tudo isso representa, em termos práticos na vida de cada brasileiro é uma dura realidade para todos. É uma vivencia de filme de terror, incerteza e desespero que reflete a angustia presente e que desperta nas pessoas os seus medos de causas reais e imaginárias, suas impotências e fragilidades. Nessa situação de catástrofe, o que poderia servir para amenizar um pouco a dor e garantir alguma esperança para que as pessoas pudessem superar melhor as dificuldades, seria contar com o estado exercendo as atribuições de provisão e proteção para as quais foi criado. Mas por aqui a experiencia se dá ao contrário, pois num momento em que mais do que nunca o ser humano é conclamado a agregar e fortalecer valores humanitários, como talvez uma das poucas alternativas para a sobrevivência da espécie. E enquanto com outros povos a responsabilidade dos chefes de Estado e os  esforços contundentes para fortalecer o sentimento de unidade, irmandade e nação frutificam em controle da pandemia e redução de mortes. O Brasil na contramão se encontra a mercê do vírus, com o governo adotando atitudes claramente desconectadas das orientações cientificamente comprovadas como eficientes para controlar os danos da pandemia. E a população se encontra imersa numa rede conspiratória e danosa em que as pessoas a quem foram delegadas funções vitais para o país, se apresentam assumindo acintosa atitude de descaso e irresponsabilidade, constituindo um atentado direto contra os direitos humanos em todos os níveis. Nesse sentido os brasileiros, se apresentam em condição extrema de exposição e vulnerabilidade ao não contar com referência crucial nessa situação. Ao ter que, nesse momento  de temor e de morte, além da necessidade de se defender do Coronavírus, ainda se deparam com as arbitrariedades cometidas pelo governo. Para os representantes de governo nos seus mais altos escalões,  historicamente acostumados as vantagens e desmandos, o caos instalado pela pandemia ainda se apresenta como oportunidade para que consigam mais vantagens, e ao mesmo tempo em que de forma vergonhosa propõem aumentos exorbitantes de salários, justificam razões para burlar as menores chances que nos restam como resquício de uma sociedade de direitos. Burlam fila de vacina, reivindicam pra si direitos de veredito e penas de morte. Sem pudor e sem compostura rasgam a Constituição sem nenhuma preocupação ou responsabilidade com as consequências das suas decisões egóicas para as vidas das pessoas.

Figuras públicas, eleitas pela população, não se sensibilizam com os próprios atos com raríssimas exceções. Como prática, defendem para si exorbitantes salários, e não satisfeitos, ainda se sentem no direito de aprovar pra si e gozar de diferentes auxílios … para pagamento de moradia e vestuário e outros. Orientados pela ganância e pela sede de poder, não exitam de nenhuma forma em tornarem reféns aqueles a quem deveriam defender. Representantes da lei, sustentados pelo povo, contrariando princípios de dignidade e honra não se constrangem de se alistarem as fileiras inimigas, e além de sequestrarem a coisa pública para o uso em benefício próprio, de forma cínica e desonrosa expõem à população a situação de plateia  em longos espetáculos de rituais com conteúdos importantes para a população e os tratam de maneira mesquinha e vulgar demarcando publicamente suas posições privilegiadas e onipotente que lhes propiciam a legitimação do mau uso do poder e do seu abuso. Sem limites ou constrangimentos, eles demitem defensores, mudam forma de governo, doam riquezas nacionais, se apropriam, desapropriam… rompem relações com o mundo  e estabelecem pactos com ditadores e com sistemas claramente contrários aos interesses do nosso povo. Protegidos e fazendo muitas vezes péssimo uso de paramentos e imunidades que lhe são conferidas para maior autonomia em defesa da população se revezam no escárnio com as necessidades da população e não se envergonham de aliados ao poder, contrários aos interesses humanitários atentarem frontalmente aos direitos humanos e se submeterem a longos processos de infindáveis discussões para aprovação de questões impensáveis que se prestam na melhor das interpretações a reduzir de vez a auto estima e acabar com toda dignidade de um povo. Assim eles se deleitam horas a fio.   Noites a dentro na discussão, sobre o  acréscimo de R$ 1,00 no salário mínimo ou aprovam de forma despudorada uma quantia irrisória para o auxílio emergencial. Quantia esta que considerariam insuficiente, caso lhes fosse oferecida como opção para a compra de qualquer porção diária de qualquer alimento para o consumo.

De conduta imoral, a regra estabelecida é,  para uns poucos privilegiados tudo! Para os cidadãos aprovam esmolas em lugar de auxílios reais. Estes não tem garantia para o transporte, para a moradia, para energia, agua,  pão. Não tem emprego, não tem direitos, nem solidariedade, nem nação. Dormem no relento e no chão em frente as calçadas das caixas , madrugando para receber uma esmola que nem tem. São estas as pessoas que mais perderam os amigos, os pais, os empregos as famílias o pouco, do pouco que ainda tinham. Para essas,  o Brasil Estado em mãos desgovernadas vira as costas. Só lhes sobra a migalha das migalhas e as estatísticas dos noticiários que anunciam a iniciativa de governantes em inusitado planejamento de antecipação de mortes, com a estratégica solução de  cavar novas covas. E o povo, órfão luta, se rebela, denúncia.  Salvador combativo, se posiciona, pede socorro, paga o preço.  Sacrifica sua própria imagem e cartão postal, em tentativa desesperada  de acordar a tempo as pessoas, do sono tóxico da  alienação e da indiferença.