
Estamos no final de 2019, é verão intenso em Salvador! A vida pulsa intensamente por aqui! A mais pura exuberância nos rodeia! Natureza em festa a proporcionar cenários paradisíacos! Céu incrivelmente azul, aves coloridas a rodopiar pelos céus, árvores transbordando doces frutos de estação! As pessoas mimetizam a estação em sazonal efervescência! Crianças e adolescentes concluindo ano letivo, trabalhadores cumprindo os precedentes para fazer jus as garantias constitucionais pactuadas para o lazer e a diversão… grupos organizados em ação para a defesa de direitos, outros em atuação para garantia de livre participação em processos decisórios sociais… São noites ardentes em expectativas e euforia! A cidade não para! Ao contrário se reinventa e se organiza em turnos para dar conta das diferentes opções que os moradores e visitantes demandam a si! O calendário se aplica! E em deliciosa complacência organiza eventos para dar lugar às realizações de fantasias e expectativas bem características d@s baian@s! Encontros, contatos, reenlaces. No ar se respira festa! Tem as sagradas.. Santa Barbara, Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição …sem pausa, natal! Amigos nos presentes nada secretos, ceias familiares, filas shoping… noite de 31! muito glamour, efusivas promessas para o ano novo! Pela manhã travessia dos navegantes e pura emoção ao encontro de mãe e filho sobre a água da baía..
intensidade nas redes e mídias a se desdobrar em reflexo às tantas vivências de calor humano! Apesar de apresentar como pano de fundo, cenário político pouco afinado com os princípios atuais de sustentabilidade na condução de problemas nacionais, o Brasil acena para o universo, imagem com marcante apelo para o imaginário simbólico aos estereótipos tropicais, incluindo com povo saudável, exuberante e sedutor, além das propícias condições climáticas e culturais para a perfeita celebração da vida e a realização de sonhos e fantasias!
Dentre as cenas cotidianas, nos noticiários locais as costumeiras ocorrências e tão comuns na época: decisões governamentais. informações sobre infrações, programação de eventos na cidade, notícias do futebol! No cenário nacional em pauta a equipe presidencial e idiossincrasias, desmandos no ordenamento dos interesses da população e coisas da ordem! E no destaque internacional as movimentações financeiras no mercado, e o modo sui generis de presidir nos Estados Unidos da América, estampam as manchetes das grandes emissoras de Televisão. Vez por outra entre as notícias do Alem mar, insere-se citação de ocorrência de surto de um tipo de gripe, lá pros lados da China num povoado desconhecido e distante. A justificativa para o adoecimento estava no hábito peculiar dos habitantes, de como é natural no seu povo, praticarem hábitos alimentares próprios e diferentes dos adotados no ocidente.
Salvador segue em Festa! Sol mar, praia e fim de tarde em Itapoã! Tem lavagem aqui, festa de camisa ali… êxtase e burburinho, muito pouco se precisa guardar para esperar o carnaval.. a vida é plena! Aqui é agora! A orla marítima transborda! Hotéis em over book! O calendário prossegue Bomfim, iemanja, Itapoã. Dança, musicalidade e alegria! Artistas dos mais variados estilos se revezam para a garantia da ambiência necessária de euforia, entusiasmo e bem estar! Nos noticiários representantes governamentais prestam conta das providências adotadas para o pleno sucesso no carnaval!
Nas avenidas de acesso os reclames dão as boas vindas e prometem alegria e diversão. Na trajetória anúncios estrategicamente alinhados reproduzem de forma sedutora amostras das possibilidades de prazer em Salvador. Num clima de calor e euforia a cidade envolve moradores e turistas! Há pouco tempo pra preocupações em demasia! Nos noticiários matinais , diante das câmaras e de telespectadores sonolentos os repórteres alinhados sob espessas maquilagens para apagar os vestígios das orgias noturnas informam programações e entrevistam personagens fictícios!
Pelas ruas se erguem camarotes e arquibancadas! Carros utilitários se transformam em potentes e opulentas coberturas com majestosas Instalações capazes de provocar inveja até ao mais abastado faraó.
É carnaval no Brasil! Tempo de brilho e glamour! Hierarquicamente os estados se engalfinham nos bastidores para visibilidade e recursos! Nas telas os preparativos das escolas incitam de curiosidade os foliões! E numa batalha velada pela maior fatia do montante turístico, as características regionais ocupam os noticiários locais na firme tentativa de convencimento dos últimos retardatários dos pacotes para os seus qgs! No circuito, tem escola de samba, afoxé, maracatu, frevo e novatos que ao perceberem o nicho como possibilidade de investimento ingressam em ferrenhas batalhas no intuito de romper oligopólios e também usufruir das benesses do setor!
Se no dia a dia, a crença do Brasil como país tropical e abençoado por Deus já ofusca a visão de muitos cidadãos, durante o período carnavalesco ocorre completa desvinculação do interesse dos brasileiros pelo que ocorre fora do país. Isso porque nesses tempos, as palavras de ordem se revezam entre passarelas, sambódromos, circuitos, camarotes folia e prazer! Nesse sentido sob condescendentes conluios ou implícitas pactuações, setores importantes da sociedade civil, foliões, chefes de estado e representantes das grandes emissoras de comunicação se aliam em consensual atitude de alheamento a problemas externos e para a manutenção do status bolhabrasil, com prerrogativas de isolamento, centralidade das ações de lazer e entretenimento, e como palco concreto de possibilidade de realização sonhos originários das sessões da tarde na ilha da fantasia! Nesse estado, perfeitamente aberto a receber pessoas de todo o continente e em pleno gozo de imunidade para o rechaço de mazelas naturais aos humanos que por razões diversas não usufruem dos privilégios naturais do povo brasileiro, pouco se percebe a relação de dependência entre os continentes e as culturas. E refutando os problemas da vida real, pela crença de imunidade conferida pela euforia, e seduzidos pelo retorno financeiro rotineiramente já incluídos nos orçamentos governamentais, chefes de estado concentram o interesse nacional nos temas associados ao carnaval. Aliadas ao propósito, as emissoras de comunicação investem em programações específicas para cada etapa da folia. No cenário se incluem pautas envolvendo atividades prévias, do próprio período em si com exaustivas programações que proporcionam cobertura especializada a nível local e nacional. Além da abordagem dos desdobramentos da folia onde inserem resultados dos concursos, de escola de samba música do carnaval e outros. Contando com reportagens em rodovias, locais de embarque e desembarque de passageiros, entrevistas com foliões sobre impressões da festa, balanço dos gestores com relação a taxas de ocupação da rede hoteleira, níveis de consumo de bebidas, número de pessoas que participaram da folia, agravos associados ao período! No final das reportagens pós quarta-feira de cinza, não raro se exibe a fala de gestores, esboçando planos de aperfeiçoamento para o próximo carnaval e na conclusão da matéria, grupos de amigos ou casais de namorados, se despedem da cidade, relutantes na partida com promessas de retorno em franco testemunho de cumprimento das expectativas nas experiências vivenciadas!
Mais espera aí: Acabou o carnaval? Tudo pronto para a ressaca! Festinhas em clubes, shows dos artistas que se destacaram, enfim, época de eventos para a manutenção do clima de aquecimento da rapaziada até a chegada de São João!
E nos noticiários, cenários antes caracterizados pela variedades e cores, repentinamente se apresentam tonalizadas em escalas que incluem na paleta o intervalo do preto ao gris! Diferente do que se possa imaginar, essa ocorrência, longe de significar como em épocas anteriores, estratégias visuais de climatização para a mudança de estação, tipo moda outono inverno ou diferenças climáticas pelo mundo afora. Correspondentes internacionais, sob espessas lentes e agasalhos de frio, respaldam em reportagens ao vivo, as informações da imprensa local da existência de grave evento que coloca em risco a saúde dos humanos, chegando ate a se construir em ameaça a sobrevivência da humanidade.
Ainda embalados pela tônica da folia, os cidadãos dispensam pouca atenção a informação, associando o fato a episódios característicos ocorridos em contextos semelhantes. Já que ao final do verão, logo depois do carnaval, é comum a cidade ser acometida por onda de virose, geralmente de extinção espontânea, ou controlada com pequenas intervenções sanitárias , que de tão costumeiras recebem apelidos locais em alusão a qualquer ocorrência em voga.
E pra falar a verdade ninguém de fato se surpreende quando as manchetes dos noticiários indicam que o Coronavírus havia chegado por aqui! Da minha parte vivi misto de indignação e esperança. Indignação ao saber que empresário oriundo de viagem ao exterior e infectado, ao ser orientado para quarentena optou por viajar para litoral baiano onde infectou diferentes pessoas. Mesmo diante do problema iminente, me acalentava a esperança de que o nosso sistema de saúde pela sua trajetória de vitórias com relação a implementação de intervenções em massa, viesse a dar conta do problema que então se insinuava no país.
Nesse processo ainda atuei diretamente na tentativa de desfazer a onda de racismo cultural com relação a China, uma vez que nas redes sociais era notória a disseminação da ideia de que a difusão da pandemia era de responsabilidade da cultura alimentar chinesa.
Nesse momento se instalou um caos nos meios de comunicação. As grandes emissoras traziam furos sensacionalistas em que divulgavam as primeiras mortes no país! A nível governamental ninguém se entendia! O presidente afirmava se tratar de um simples resfriado sem maiores consequências. Enquanto o seu representante direto, o ministro da saúde conclamava à população para coparticipação nas ações em defesa da vida! Caos instalado! Entre o abismo das diferenças sociais, a descrença nos governantes, e a impotência da ciência para dar resposta imediata a necessidade da população. O jornal de maior audiência é aberto em tom de indignação pelo apresentador com a notícia de que chegamos a 1000.000 mortes pela COVID no país