Serra elétrica

Em tempos de pandemia
As pessoas morrem
Nós choramos
Pelos amigos
Que fizemos
E os que nem pudemos ter.
As famílias nos pedem
Um pouco de amor e com paixão
Relembram dos seus
Que já não voltam mais!
Sem tempo pra cicatrizes
As dores se juntam
E os cortes abertos
Não coagulam,
Nem formam os tão necessários cascões
Tão importantes para
Serenizar as emoções.
Turbilhada em sentimentos
Sou chamada a realidade
Por incomum alvoroço
Na vizinhança.
Em desesperada comoção
Família e amigos
Reagem com veemência
Para a defesa de bem muito caro.
O direito à moradia,
Que ameaçada pela truculência
Da alienação humana
Ameaça ruir.
Fragilizada e empática
Temo ter mais uma
Vivência de despedida
De amigos que em tempo de pandemia
Vinham me colorindo o horizonte
A me bridar com solilóquios e sinfonias
Ao crepúsculo e amanhecer.
A árvore balança
E junto com ela
A segurança da família
Que construiu em
Lugar inalcançável
Com muitas idas e vindas
De graveto a graveto
O lar …ninho para filhotes
E refúgio de aprendizagens
Resistência e amor.


No barulho do motor
Pressentimento … horror
Logo a indignação pelo som
Que me trespassa a alma
Cede lugar para
Ternura empatia …temor… preocupação.
Aos meus olhos descortinados
Em cena de tragédia
Queira Deus não se anuncie!
Operários em perigosa alegoria
Apostam na sorte
A pendular entre cordas
Cintos e insegurança
Defendem
A vida
E a sobrevivência
Tão necessárias
Nesse dias tão duros.
Silenciosamente
Peço ao universo
Que nos proteja as criaturas.
Vida para os operários
Vida para os meus vizinhos
Enquanto aguardo com
Ansiedade o silenciar do motor
E notícias da família que se mudou!